quinta-feira, 28 de abril de 2011

Mobilidade Urbana: Enfim, as cidades da Copa começam a se mover

27/04/2011 - Portal 2014

Com um ano de atraso, projetos de transporte do Mundial ganham novos prazos para sair do papel

Ao longo das últimas semanas, o Portal 2014publicou uma série de reportagens sobre as obras de mobilidade urbana nas 12 cidades-sede da Copa. O objetivo era saber como andam as intervenções deste setor, um dos que pode deixar verdadeiro legado às capitais brasileiras depois do Mundial.

Como em todas as áreas vinculadas à infraestrutura da Copa, o diagnóstico de transportes não é dos mais animadores. Nenhuma das 50 obras listadas naMatriz de Responsabilidades começou no prazo. O documento foi assinado em janeiro de 2010 e estabelece quanto cada esfera de governo deve investir para o Mundial.

O próprio Ministério do Esporte reconhece os problemas. Relatório publicado em janeiro coloca apenas 21 projetos de mobilidade sob a rubrica “adequado”, certamente desconsiderando os atrasos iniciais. Fora a situação “preocupante” do monotrilho de Manaus, as demais obras tiveram cronograma “reprogramado”, o que indica uma extensão dos prazos. A publicação é um avanço em comparação à quantidade de informações oficias disponíveis no ano passado. Ainda assim, o documento peca ao não dizer o porquê dos adiamentos, maquiando os atrasos iniciais.

Indefinições

Segundo apuraram os correspondentes do Portal 2014 nas 12 cidades, os principais entraves ao início das obras são irregularidades nas licitações, ausência de projetos, problema com desapropriações e indefinição sobre o tipo de sistema a ser adotado. A ação dos Ministérios Públicos paralisou a construção do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) de Brasília e impediu a concorrência dos monotrilhos de Manaus e São Paulo.

Mesmo com problemas saltando às vistas, o governo federal é esquivo ao falar dos atrasos. Quando cobrado, o Ministério do Esporte joga a responsabilidade sobre estados e prefeituras. Por seu lado, os gestores locais ignoram a ausência de obras e afirmam que “tudo está em dia”.

O otimismo, porém, não esconde o óbvio: as cidades brasileiras estão cada dia mais engarrafadas. A situação é bastante parecida em todas as sedes do Mundial. Os projetos de transporte público não deslancham e, como consequência, a frota de veículos cresce em ritmo acelerado.

Lentidão
São Paulo, por exemplo, bateu o recorde dos sete milhões de veículos em 2010, enquanto a ampliação do metrô apenas engatinha. Cidades até então consideradas pequenas, Cuiabá e Manaus já enfrentam engarrafamentos semelhantes aos das metrópoles. A menos de três anos para a Copa, Salvador e Recife ainda discutem se bondes ou ônibus são mais adequados para aliviar o trânsito.

A lentidão para tirar as obras do papel não passou despercebida para a presidente Dilma Rousseff. No início do ano, ela exigiu relatórios trimestrais sobre as obras da Copa a Orlando Silva. O pulso firme da presidente tem razão de ser. Depois de publicação do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) concluir que nove aeroportos não estarão prontos até a Copa, a oposição entrou em campo para cobrar ações do governo.

A ofensiva teve direito a anúncios em rádios e TVs e a um pedido do senador Álvaro Dias (PSDB-SP), em plenário, para que o Brasil desista da Copa a fim de evitar uma vergonha mundial.

Investimentos
Exageros à parte, os quase R$ 11,9 bilhões a serem investidos em mobilidade podem de fato representar um salto de qualidade nas 12 cidades-sede. Desse montante, R$ 7,8 bilhões serão financiados pela Caixa Econômica Federal (CEF) com recursos do FGTS, e o restante pelos governos estaduais e municipais.

A prioridade é para o transporte coletivo em rotas que liguem aeroportos, estádios e setores hoteleiros. Com isso, serão construídos corredores rápidos de ônibus (BRTs), veículos leves sobre trilhos (VLTs, ou “bondes" modernos), dois monotrilhos (em Manaus e São Paulo), além de intervenções pontuais em vias e sistemas de monitoramento. O desafio é tirar as obras do papel. Confira um resumo do andamento das obras nas 12 cidades-sede da Copa.

Belo Horizonte
Obras deveriam ter começado ano passado, mas mudanças nos projetos executivos adiaram as intervenções para 2011.

Brasília
A obra do VLT começou em 2009, mas sofreu diversas paralisações. A última suspensão ocorreu ano passado devido a irregularidades na licitação e ausência de projetos de impacto ambiental e vizinhança.

Cuiabá
Governo de Mato Grosso ainda não definiu se adotará o BRT (Bus Rapid Transit) ou o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). Desapropriações para as obras ainda não começaram.

Curitiba
Governo do Paraná teve que revisar projetos, o que provocou atrasos nas licitações das principais obras da cidade.

Fortaleza
Início das obras do VLT, de quatro BRTs e de ampliação de cinco avenidas foi adiado em até nove meses. Prazos tiveram que ser revistos com a Fifa.

Manaus
Ministério Público encontrou falhas no projeto básico do monotrilho e paralisou a licitação da obra, que está um ano atrasada. Governo retomou a concorrência em fevereiro, mas empresa foi desclassificada. Viabilidade econômica do BRT também sofre contestação.

Natal
As reformas que visam estruturar as principais vias da capital potiguar enfrentam mais de um ano de atraso.

Porto Alegre
Governo do Rio Grande do Sul não conseguiu contratar 90% dos projetos de mobilidade para a Copa.

Recife
Dos cinco projetos da Copa, apenas um está em obras. Atrasos já chegam a cinco meses. Além disso, governo não sabe se adotará BRTs ou VLTs.

Rio de Janeiro
Construção do BRT Transcarioca começou em fevereiro, com atraso de quase um ano.

Salvador
Com nove meses de atraso, governo da Bahia ainda não decidiu se adotará BRT ou VLT.

São Paulo
Faltando três anos para a Copa, governo estadual e prefeitura definiram na semana passada as obras viárias para a Copa. Recursos do PAC da Mobilidade Urbana serão usados na construção de um monotrilho que passará a 30 km de distância do estádio do Mundial.

*Participaram da reportagem: Alexandre de Santi (Porto Alegre), Julio Cesar Lima (Curitiba), Rafael Massimino e Regina Rocha (São Paulo), Vanessa Cristani (Rio de Janeiro), Maricelle Lima (Cuiabá), Igor Costoli e Marcelo Farias (Belo Horizonte), Daniela Martins (Brasília), Karlo Dias (Salvador), Jackeline Farah (Manaus), Gabriela Ribeiro (Recife), Lucio Pontes Filho (Fortaleza) e George Fernandes (Natal).